Fonte: Revista Saber
Edição 16 - 1989
Autor Valter Aguiar
Incessantemente praticado durante
muitos anos, o jamming era a grande "praga" dos ouvintes de ondas
curta do mundo inteiro. Hoje, com a política de abertura da União Soviética, o
jamming é muito menos praticado, mas ele
ainda existe. Mas, afinal de contas, o que é o jamming? Jamming é o nome dado a qualquer espécie de
interferência proposital destinada a encobrir o sinal de urna emissora que se
deseje censurar, normalmente com fins políticos. O rádio internacional é um
meio de comunicação sem fronteiras. Qualquer pessoa pode acompanhar os
acontecimentos mundiais através da fonte de informação que bem entender. Pode-se ouvir a Voz da América ou a Rádio Moscou; a Rádio Pequim ou a Voz da China Livre, de
Formosa; a Voz da Alemanha, de Colônia,
ou a Rádio Berlim Internacional. A única limitação, nesta análise, refere-se ao
orçamento de cada emissora. Naturalmente, os países ricos podem investir mais
em rádios internacionais do que os países pobres. Com isso, as emissoras mais
potentes e mais fáceis de captar são, via de regra, as dos países ricos.
Entretanto, nem sempre é interessante para um governo permitir que uma emissora
estrangeira com pontos de vista contrários ideologicamente seja ouvida pela sua
população. E ai que entra a única forma de censura possível nas ondas curtas: o
jamming, ou sejas, o bloqueio da emissora através da transmissão de ruído na
mesma frequência. Como qualquer outro tipo de censura, o jamming é fruto de
governos autoritários. Surgiu na ll Guerra Mundial, com o governo de Adolf
Hitler interferindo nas frequências de várias emissoras dos aliados, em
particular a BBC. Após a guerra, a União Soviética passou a interferir em
várias emissoras do bloco capitalista. Os alvos principais eram a Rádio
Liberdade e a Rádio Europa Livre, emissoras sediadas na Alemanha Ocidental e
mantidas pelo governo dos Estados Unidos, que transmitem programas nos idiomas
falados nos países socialistas. E não se trata apenas das grandes potências.
Existem grupos contrários aos governos de seus países que mantêm emissoras
clandestinas para difundir as suas ideias. Estas emissoras são alvo frequente
de jamming. Um dos muitos exemplos é a conhecida centro americana Rádio
Venceremos. Há ainda casos da interferência sofridas pela Voz da América em chinês durante os episódios da
Praça da Paz Celestial, em Pequim.
Existem diversas formas de se
diminuir o problema causado pelo jamming. Do lado dos ouvintes, existe um
modelo especial de antena de quadro que reduz o nível de ruído pela
interferência. Por parte das emissoras, há duas saídas: aumentar a potência de transmissão ou o
número de frequências utilizadas, de forma a esgotar a capacidade de jamming do
oponente e ainda restar alguma frequência livre. Tanto em um caso corno no
outro, o resultado é o mesmo:
congestionamento da faixa, um problema já abordado em artigo anterior e
do qual o jamming sempre foi um dos grandes responsáveis. As emissoras
clandestinas, que não têm capacidade de transmissão para utilizar um dos
sistemas acima, costumam adotar um artifício bastante interessante: variam suas
frequências dia após dia, e até, durante uma mesma transmissão, a fim de
despistar os praticantes do jamming.
Felizmente para os ouvintes de onda curta do mundo inteiro, a política de abertura do presidente
soviético Mikhail Gorbachev fez com que o jamming da União Soviética deixasse
de ser praticado. No inicio de 1988, a União Soviética parou de interferir nas,
transmissões da BBC e da Voz da América em
idioma russo. Posteriormente, foi
a vez da Rádio Europa Livre e da
Rádio Liberdade.
O jamming continua sendo praticado por outros.
países mas, na. maior parte das vezes, de maneira esporádica. Os transmissores
que eram utilizados pela União Soviética para jamming agora emitem programas de
um serviço mundial da Rádio Moscou, em russo. Esta atitude trouxe excelentes
novidades para os radio escutas: menos ruído no ar e um novo e interessante
serviço para ser ouvido!