terça-feira, 26 de março de 2019

O "Jamming"



Fonte: Revista Saber 
Edição 16 - 1989

Autor Valter Aguiar



Incessantemente praticado durante muitos anos, o jamming era a grande "praga" dos ouvintes de ondas curta do mundo inteiro. Hoje, com a política de abertura da União Soviética, o jamming é muito menos praticado, mas ele  ainda existe. Mas, afinal de contas, o que é o jamming?  Jamming é o nome dado a qualquer espécie de interferência proposital destinada a encobrir o sinal de urna emissora que se deseje censurar, normalmente com fins políticos. O rádio internacional é um meio de comunicação sem fronteiras. Qualquer pessoa pode acompanhar os acontecimentos mundiais através da fonte de informação que bem entender. Pode-se ouvir a Voz da América ou a Rádio Moscou;  a Rádio Pequim ou a Voz da China Livre, de Formosa;  a Voz da Alemanha, de Colônia, ou a Rádio Berlim Internacional. A única limitação, nesta análise, refere-se ao orçamento de cada emissora. Naturalmente, os países ricos podem investir mais em rádios internacionais do que os países pobres. Com isso, as emissoras mais potentes e mais fáceis de captar são, via de regra, as dos países ricos. Entretanto, nem sempre é interessante para um governo permitir que uma emissora estrangeira com pontos de vista contrários ideologicamente seja ouvida pela sua população. E ai que entra a única forma de censura possível nas ondas curtas: o jamming, ou sejas, o bloqueio da emissora através da transmissão de ruído na mesma frequência. Como qualquer outro tipo de censura, o jamming é fruto de governos autoritários. Surgiu na ll Guerra Mundial, com o governo de Adolf Hitler interferindo nas frequências de várias emissoras dos aliados, em particular a BBC. Após a guerra, a União Soviética passou a interferir em várias emissoras do bloco capitalista. Os alvos principais eram a Rádio Liberdade e a Rádio Europa Livre, emissoras sediadas na Alemanha Ocidental e mantidas pelo governo dos Estados Unidos, que transmitem programas nos idiomas falados nos países socialistas. E não se trata apenas das grandes potências. Existem grupos contrários aos governos de seus países que mantêm emissoras clandestinas para difundir as suas ideias. Estas emissoras são alvo frequente de jamming. Um dos muitos exemplos é a conhecida centro americana Rádio Venceremos. Há ainda casos da interferência sofridas pela Voz  da América em chinês durante os episódios da Praça da Paz Celestial, em Pequim.
Existem diversas formas de se diminuir o problema causado pelo jamming. Do lado dos ouvintes, existe um modelo especial de antena de quadro que reduz o nível de ruído pela interferência. Por parte das emissoras, há duas saídas:  aumentar a potência de transmissão ou o número de frequências utilizadas, de forma a esgotar a capacidade de jamming do oponente e ainda restar alguma frequência livre. Tanto em um caso corno no outro, o resultado é o mesmo:  congestionamento da faixa, um problema já abordado em artigo anterior e do qual o jamming sempre foi um dos grandes responsáveis. As emissoras clandestinas, que não têm capacidade de transmissão para utilizar um dos sistemas acima, costumam adotar um artifício bastante interessante: variam suas frequências dia após dia, e até, durante uma mesma transmissão, a fim de despistar os praticantes do jamming.  Felizmente para os ouvintes de onda curta do mundo  inteiro, a política de abertura do presidente soviético Mikhail Gorbachev fez com que o jamming da União Soviética deixasse de ser praticado. No inicio de 1988, a União Soviética parou de interferir nas, transmissões da BBC e da Voz da América em  idioma russo. Posteriormente, foi  a  vez da Rádio Europa Livre e da Rádio Liberdade.
 O jamming continua sendo praticado por outros. países mas, na. maior parte das vezes, de maneira esporádica. Os transmissores que eram utilizados pela União Soviética para jamming agora emitem programas de um serviço mundial da Rádio Moscou, em russo. Esta atitude trouxe excelentes novidades para os radio escutas: menos ruído no ar e um novo e interessante serviço para ser ouvido!